Construindo o futuro da arquitetura

A racionalização e a industrialização da construção são o futuro da arquitetura e o aço, neste contexto, é um dos materiais mais adequados. A opinião é do arquiteto Alexandre Ruiz, da Saboia + Ruiz Arquitetos. Definitivamente, se a sustentabilidade é a grande tendência do setor, o sistema construtivo em aço é reutilizável, além do insumo ser 100% reciclável.

“O uso do aço representa um grande avanço na experiência construtiva humana, pois a arquitetura precisa servir ao homem, respeitando e entendendo sempre o contexto ambiental”, analisa Ruiz. 

Hoje, amanhã e sempre o sistema metálico merecerá destaque e, se pensarmos nos próximos 10 anos, podemos prever que será fundamental no Brasil, cada vez mais, como já acontece em vários outros países. “Não só pela reciclagem nas siderúrgicas, mas também como elemento estrutural que pode ser desmontado e remontado em outro lugar”, reforça o arquiteto titular da Saboia + Ruiz Arquitetos.

Mauricio Salvi, da Uffizi Arquitetura, também crê que o sistema em aço representa o futuro da sua profissão. Para ele, basta analisar as construções realizadas em Dubai, nos Emirados Árabes. “A Ilha é muito bem planejada e considerada um verdadeiro ícone da construção em aço”, afirma o arquiteto. “Com os problemas crescentes nas questões de moradia, sustentabilidade e infraestrutura urbana, o pensamento de cidades verticais ganha cada vez mais notoriedade”.

Mauricio propõe um raciocínio: “Vamos imaginar uma casa térrea de 100 metros quadrados. Podemos fazer em concreto, aço ou madeira e cada material tem suas características próprias. Eu, pessoalmente, prefiro o sistema em aço, pela sua leveza em uma obra pequena. Agora podemos imaginar um arranha-céu de 70 andares. Pergunto: dá para fazer no concreto ou na madeira? ”. 

Jô Vasconcellos e Sérgio Palhares, arquitetos que juntos realizam um estudo para projeto do Museu Marítimo do Brasil, usando efetivamente a construção em aço, também defendem que o futuro da arquitetura deve estar vinculado ao compromisso com práticas sustentáveis que minimizem impactos sociais, econômicos e ao meio ambiente. 

“O aço, explorado, beneficiado e utilizado – planejamento, execução e uso – dentro desses princípios, coloca-se como importante alternativa tecnológica e de inovação para a construção civil no Brasil e no mundo”, afirma a arquiteta. 

Na visão de Jô Vasconcellos, as indústrias brasileiras estão desenvolvendo tecnologias que amparam os arquitetos, ao longo dos últimos anos, além de viabilizar uma prática profissional mais qualificada, apta a responder às possibilidades do aço e ao crescente processo de industrialização das obras.

Sérgio Palhares concorda: “Os projetistas estruturais  participam de maneira integrada e não sequencial, junto com os arquitetos, no processo de concepção de estruturas em aço, consolidando resultados com maior elaboração técnica e conceitual na cadeia de projetos. Empresas passam a dominar as técnicas de produção por meio da montagem e tratamento do aço em conformidade com as demandas específicas de cada obra”.

Alexandre Ruiz também defende a ideia de que os arquitetos contam cada vez mais com empresas nacionais competentes, com boa capacidade técnica, para a execução de estruturas metálicas. 

“Isso é uma grande vantagem também aos engenheiros de estruturas que podem, em parceria com os arquitetos, pensar em detalhamentos mais elegantes, arrojados e seguros”, avalia Alexandre Ruiz. “Se o projeto for corretamente desenvolvido e detalhado, as qualidades da estrutura em aço serão preservadas e potencializadas”.

O sistema em aço deve construir o futuro da arquitetura por oferecer inúmeras vantagens e benefícios, como liberdade de criação, versatilidade, flexibilidade, durabilidade, compatibilidade com outros materiais, racionalização, segurança e agilidade. 

O custo é apenas uma consideração primária. Até porque o aço é cortado com precisão quando fabricado, não havendo qualquer desperdício, além de seus componentes fortes e leves poderem ser erguidos rapidamente, sendo – inclusive – mais fáceis de transportar.

“A precisão e previsibilidade da estrutura de aço permite uma grande antecipação de detalhamento executivo, com uma margem de erro muito pequena”, avalia Alexandre Ruiz. “Se o edifício é executado de acordo com o que foi projetado, o processo de execução é muito mais rápido que estruturas moldadas in loco e com margens de erro muito pequenas”.

De acordo com ele, isso possibilita a antecipação do processo de fabricação de outros elementos da obra, como vedações, vedações internas, sistemas de instalações prediais, resultando num ganho de agilidade e qualidade construtiva. “Outra vantagem é o aspecto da estrutura metálica, sempre mais esbelta e modular, que pode ser explorado como parte da expressão da própria arquitetura”, completa Ruiz.

A linguagem expressiva do processo industrial de construção metálica está pautada numa lógica de razão precisa das dimensões dadas em milímetros, e dos códigos e normas técnicas. “As estruturas industrializadas, de fácil apreensão e domínio técnico de concepção e planejamento, bem como montagem, acabamento e uso, estimulam os arquitetos a ensaios e experimentações que resultam em alternativas de estruturas ambientais com significativas qualidades espaciais”, destaca Jô Vasconcellos.

Quando se pensa no futuro, é necessário analisar o presente. Inspirado pela esbeltez dos elementos estruturais e pela possibilidade de incorporá-los na própria estratégia de expressão da arquitetura, o arquiteto Alexandre Ruiz afirma que tem desenvolvido muitos projetos esportivos com o uso do aço. Recentemente, ele projetou para um clube de padel, em Chicago, nos Estados Unidos, junto com os engenheiros Ricardo Dias, responsável pelo cálculo da estrutura metálica, e Aloísio Schmid, responsável pelo projeto de eficiência energética. O trabalho foi extremamente desafiador.

“O objetivo foi construir um edifício leve, translúcido e net-zero, ou seja, que consumisse a mesma energia que é capaz de produzir”, explica Ruiz. “A estrutura metálica permitiu criar um envelope esbelto, garantindo a circulação de ar entre uma camada dupla de painéis translúcidos de policarbonato e viabilizando o isolamento térmico do edifício, por meio da circulação de ar aquecido pela troca geotérmica. Nenhum outro sistema construtivo viabilizaria esta solução”.


Pensando no amanhã, olhando lá na frente, é muito provável que a construção cível seja mais industrializada. Porém, os arquitetos terão que enfrentar uma quantidade enorme de edifícios mal construídos e/ou degradados que deverão passar por processo de retrofit. Entretanto, a construção em aço pode colaborar na criação de espaços inovadores. 

“As atividades de lazer e de trabalho, bem como as relações de convivência social, evidenciam necessidades de novas configurações espaciais, vinculadas – sobretudo – aos espaços preexistentes das moradias”, prevê Sérgio Palhares. “Para essas reconversões, inclusive com ampliações, nas edificações cujo sistema construtivo tradicionalmente utilizou o concreto armado, é muito importante considerar o aço como opção para as construções convencionais”. 

Para finalizar o debate, a opinião valiosa de Alexandre Ruiz: “O aço é, provavelmente, o sistema construtivo mais versátil por conta da infinidade de elementos, aplicações e dimensões possíveis. Basta ver todos os derivados dos aços disponíveis no mercado e como isso tem sido uma grande inovação ao longo do tempo”. 

Tais desenvolvimentos inovadores são essenciais para apoiar a evolução do aço  nas estruturas. Arquitetos e projetistas também estão desempenhando um papel fundamental, desafiando a indústria siderúrgica a continuar ampliando os limites das propriedades do aço e das tecnologias de laminação. 

E, assim, os setores da arquitetura e da construção certamente movem- se em direção à padronização, modularização e pré-fabricação para aumentar a eficiência e minimizar possíveis atrasos no cronograma de obra. Esse é o caminho para um futuro melhor.

FONTE: Revista Arquitetura & Aço

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